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Normas internacionais ainda carregam ‘cheiro’ brasileiro.
Fonte: Valor Online | Data: 13/7/2011
Nelson Niero | De São Paulo
As normas internacionais
de contabilidade adotadas integralmente no país neste
ano ainda têm o “cheiro” brasileiro, aponta um estudo
sobre a aplicação do novo modelo depois de três
décadas de vigência da regras previstas na Lei
das Sociedades Anônimas.
Segundo levantamento feito pela Ernst
& Young Terco e a Fundação Instituto de Pesquisas
Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), “as demonstrações
de uma empresa de varejo brasileira são mais parecidas
com as demonstrações financeiras de uma mineradora
brasileira do que de uma empresa de varejo britânica”.
Essa “forte identidade brasileira”
está ligada à postura conservadora das empresas,
que preferiram manter, por exemplo, os ativos pelo custo histórico.
Elas poderiam ter optado pelo chamado “custo atribuído”,
o que traria o valor desses ativos para mais perto da realidade
econômica.
“A prática tradicional brasileira
de seguir as taxas de depreciação admitidas pela
legislação fiscal faz com que seja muito difícil
a adoção generalizada de taxas com base numa avaliação
gerencial adequada da vida útil para a empresa dos [ativos]
imobilizados”, diz o estudo, que analisa as divulgações
de 56 empresas não financeiras com relevância na
bolsa.
Uma das vantagens das chamadas normas
internacionais – adotadas por mais de cem países – seria
ultrapassar as barreiras locais e criar uma língua universal
dos balanços.
As diferenças constatadas
pelo estudo, apesar de esperadas neste momento inicial de adoção,
levantam “possíveis questionamentos acerca da consistência
e comparabilidade prometidas por um padrão contábil
global único”.
As empresas brasileiras começaram
o processo de convergência ao padrão internacional
(IFRS, na sigla em inglês) em 2008, com a adoção
paulatina das normas emitidas pelo Comitê de Pronunciamentos
Contábeis Os balanços de 2010, divulgados neste
ano, são os primeiros a vir no que seria o IFRS “completo”.
Paul Sutcliffe, sócio da Ernst
& Young Terco, diz que essas discrepâncias estão
longe de invalidar o trabalho das empresas nesse processo, que
“foi muito bem feito”.
Segundo ele, “ninguém começou
com uma folha em branco”, e por isso seria normal carregar alguns
vícios do passado. “Isso também aconteceu na Europa”,
diz. Essa questão cultural, afirma, não tem impacto
sobre os resultados das empresas.
Os países da União
Europeia usam o IFRS desde 2005. Ao contrário do que
foi feito no Brasil, as empresas europeias só adotaram
o IFRS para os balanços consolidados. As demonstrações
individuais continuam a seguir os padrões locais.
Apesar de ressaltar que as empresas
ainda estão num processo de aprendizagem, Sutcliffe diz
que é preciso melhorar a qualidade da informação.
O estudo constatou que muitas vezes
as empresas simplesmente citavam de maneira literal uma norma,
“mas sem efetivamente prover informações relevantes
aos usuários”.